NÚMEROS DO ABORTO CHOCAM, MAS DÚVIDAS SOBRE SUA VERACIDADE AMPLIAM POLÊMICAS
- Aborto Contraditório
- 4 de jun. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 7 de jun. de 2018
Os números sobre aborto no Brasil e no mundo são chocantes, mas não raro sua veracidade e credibilidade são questionadas. A inconsistência dos dados é gritante, já que não há um órgão único capaz de centralizar todas as informações sobre o tema. Além disso, algumas instituições divulgam pesquisas com números inflados com o intuito de direcionar o debate para o lado que deseja. O que, claro, só faz prejudicar e empobrecer uma discussão tão séria.
Não é difícil localizar contradições nos dados publicados por diferentes veículos de imprensa. Em matéria publicada em agosto passado, a revista SuperInteressante busca, supostamente, desmistificar certas crenças gerais de quem se coloca contrário à legalização do aborto, e pra isso ela apresenta dados devidamente creditados.
Em um dos tópicos elencados, os “mitos sobre o aborto”, a publicação afirma que, diferente do que se possa pensar, mulheres com vida bem estruturada também abortam por opção - até mais do que aquelas que abortam por falta de estrutura financeira ou familiar. A fonte apontada para esta informação é o Ministério da Saúde.
Entretanto, em outra matéria, esta do HuffPost Brasil, constam dados do IBGE de 2015 que dizem exatamente o contrário: quanto mais pobres e com menor grau de instrução são as mulheres, maior é a incidência de abortos induzidos entre elas. Vai além: acrescenta que entre as mulheres pretas e pardas essa incidência aumenta ainda mais, o que reforçaria que a escolha por abortar está direta e intrinsecamente ligada a vulnerabilidade social da mulher.
Importante ressaltar que no caso da HuffPost a reportagem foi composta em linguagem jornalística neutra e imparcial, onde não transparece a posição do veículo, mas na veiculada pela SuperInteressante ocorre o oposto, e nela é clara e bem explicitada a posição pró-legalização.
Uma das fontes de informação que são amplamente utilizadas nas reportagens contra a proibição é a “Pesquisa Nacional do Aborto”, realizada em 2016 por um grupo de pesquisadores da UnB. Porém, a credibilidade dos dados que foram apresentados sofreu reiterados questionamentos por claras inconsistências que seriam consequência de uma tendência prévia dos realizadores da pesquisa pela defesa da legalização.
Um dos poucos grandes jornais que assume posição radicalmente contrária ao aborto - e faz até campanha pró-vida - o “Gazeta do Povo” do Paraná, publicou no final do ano passado reportagem onde questiona a veracidade de dados que circularam amplamente nas redes a respeito do aborto no Brasil. Um deles foi a suposta cobrança da ONU ao Brasil por 200 mil mortes decorrentes de aborto induzido no país - quando a própria instituição reporta em seus dados oficiais o número de 47 mil mortes não no Brasil, mas no mundo inteiro.
Outra inconsistência gritante é o quanto custaria, ao Sistema Único de Saúde, tratar as mulheres que abortam por vontade: a Gazeta do Povo nega que o número de R$142 milhões seja correto, apontando o dado colhido por eles no DataSus, que seria de quase R$43 milhões no ano de 2016. O número anterior é apontado em um dos tópicos da já citada reportagem da SuperInteressante, e um detalhe chama a atenção: os 142 milhões seriam a somatória de 63 milhões decorrentes das internações mais 78 milhões referentes a todas as curetagens realizadas no SUS, mas inclui nesse segundo dado também as curetagens que foram realizadas nas mulheres que sofreram aborto espontâneo.
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